sábado, 11 de abril de 2015

LUCIANO HANG


“Tudo é possível”



Luciano Hang
Brusque, 1972.
O menino calça seus sapatos para ir à escola. Percebe um desconforto no solado de um deles, retira o calçado... e descobre que a sola está furada. Se tiver sorte, não vai chover. Se chover ou pisar em poça d’água, vai passar as aulas com o pé molhado...
A solução seria mais simples, caso tivesse um segundo par de sapatos. Sem esta alternativa, só resta ao menino colocar em prática um plano B: forrar o sapato com pedaço de papelão ou de jornal, e seguir em frente, antes que deem o sinal para o início das aulas!
Ele segue seu caminho rumo à Escola Básica João XXIII. Na hora do recreio, assim como seus colegas, sente vontade de comprar alguma coisa que incremente seu lanche.
Mas, não existe cantina na escola, e nem alg-...
Ei, espere aí! Não existe cantina na escola ainda, mas pode passar a existir, certo?
A partir desta reflexão, Luciano Hang – então com nove anos de idade, tem uma ideia que irá marcar o início de suas atividades como empreendedor! Ele recebe permissão da escola e, ajeitando duas ou três carteiras aqui e ali, dá início ao embrião da futura cantina.
No início, vende apenas produtos de primeira necessidade para os colegas – wafer e balas! Estes produtos cobiçados pela garotada são comprados por ele na empresa Café Érico em caixas e em pacotes, e são vendidos aos estudantes e professores a granel.
A iniciativa prospera.
A clientela cresce mais e mais, a cada intervalo das aulas...
Duas ou três semanas depois, Luciano já não precisa mais se deslocar até o centro da cidade para buscar a mercadoria – não senhor! A kombi da empresa estaciona diante da escola e descarrega a mercadoria! A cantina passa a ter um estoque sortido e variado, ao gosto da clientela!


ENQUANTO ISSO, NO TELHADO
DA IGREJA MATRIZ...

Enquanto isso, no centro da cidade, o fotógrafo Erico Zendron sobe até o telhado da Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga para captar vistas aéreas do centro urbano. Ele aponta sua lente para a praça Barão de Schneeburg, logo abaixo dos seus pés. Pela avenida Cônsul Carlos Renaux – pavimentada com paralelepípedos – desfilam poucos carros: Fusca, Jeep, Variant, Rural...
Por cima da Loja Krieger, é possível avistar a rodovia Antônio Heil – a ser inaugurada em 1974. Há poucos veículos transitando. Entre a Krieger e a rodovia, há uma ampla pastagem sobre a qual, alguns anos mais tarde serão construídas as avenida beira-rio, prédios comerciais, edifícios residenciais, rodoviária, pavilhão de eventos, hotéis...
Assim como novos empreendimentos e edificações surgiram naquele período, ícones do patrimônio arquitetônico desapareceram... A economia – que tinha na indústria têxtil a sua base e na qual trabalhavam os pais do menino Luciano – também mudou.
E mudou muito!


BRUSQUE É UMA CIDADE
DE EMPREENDEDORES

Luciano Hang foi além da implantação de uma cantina.
Na mesma escola, foi líder de classe e presidente do Grêmio Estudantil, e um dia assumiu a presidência do CEUB – Clube dos Estudantes Universitários de Brusque. O prefeito José Celso Bonatelli ouviu suas reivindicações e a partir de então os universitários de Brusque tiveram direito ao transporte gratuito até a faculdade, em Itajaí.
O menino que criou a cantina da escola entrou para o rol de empreendedores de Brusque. Foi vendedor de carros e de tecidos antes de comprar a Tecelagem Santa Cruz, no início da década de 1980. Encontrou novamente no prefeito Bonatelli o apoio que precisava para ampliar o parque fabril. Recebeu como incentivo a terraplanagem para a construção de um galpão de 7 mil metros quadrados, abrigando 60 teares.
Luciano estava então com 21 anos de idade.


EMPREENDER SE APRENDE NA PRÁTICA!

Aprendeu na prática que Brusque é uma cidade de empreendedores e que a estes empreendedores sua terra natal deve o seu desenvolvimento. Isso há muito, muito tempo atrás... Desde que (o futuro) cônsul Carlos Renaux abriu sua venda no século XIX...
Algumas cidades não têm vocação para empreender – ou aparentam não ter – até que alguém toma a iniciativa de criar um produto, uma técnica ou uma fórmula para se desenvolver. Carlos Renaux, que trouxe a indústria têxtil para a cidade, foi admirado e imitado, e outras indústrias similares foram criadas, ampliando a absorção da mão-de-obra têxtil.
Depois do setor têxtil, desenvolveu-se o setor de malharia. Iniciativas como as do empreendedor Ciro Roza foram imitadas, e na década de 1980 – principalmente depois da enchente de 1984 – Brusque passou a ter um outro perfil econômico.
Um dia, Luciano Hang criou a empresa que o tornou conhecido dentro e fora de Santa Catarina: Havan. O setor têxtil começou a decair – os setores de malha, tinturaria e metalurgia a crescer.
Na mesma década – 1980 – o empresário Ciro Marcial Roza estimulou na cidade o crescimento de um polo de malharias. Ele vendia malha e estimulava os confeccionistas a produzir.
A rua Azambuja se tornou um grande polo de confecção a pronta entrega. Caravanas de compradores foram organizadas e vinham a Brusque comprar a produção local. Em alguns anos, a rua Azambuja expandiu o volume de negócios, diversificou a produção e se transformou em um shopping a céu aberto.
Para Luciano Hang a resposta estava na fé! Era preciso acreditar no empreendimento que estava sendo criado. Tivesse ele nascido ou não em Brusque, estudado em escola pública ou particular... Importava apenas a sua força de vontade e sua determinação em alcançar os objetivos por ele traçados.
Existe uma fórmula para o sucesso?
Luciano não fala em fórmula, fala em foco – Acreditar nos sonhos e trabalhar!
Acredita que hoje seja possível realizar muito mais sonhos do que na época na qual começou. Admira os jovens que começam cedo, acredita ser esta uma das boas características dos empreendedores de Brusque.
O brusquense é um povo que acredita no seu potencial, que através de seu empenho na concretização dos projetos, passa a incentivar outras pessoas a empreender. Um exemplo é o grande número de empresas de pequeno e médio porte instaladas no município.
É preciso acreditar nos sonhos e perseverar.
As coisas são fáceis de realizar.
A alternativa é uma só: tentar, tentar até encontrar o próprio caminho!
Esta foi uma das lições que ele aprendeu em casa. Principalmente a cuidar do dinheiro e a ser correto. O segredo está em conseguir conciliar o pouco que se tem com o muito que se possa fazer.
Esperar ter muito para então fazer alguma coisa é perda de tempo. É preciso ganhar dinheiro e fazer investimento. Amar o que se faz. Fazer um plano de negócios e seguir com suas metas.

Tudo é possível.

Texto: Revista Lions Berço da Fiação

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