sábado, 11 de abril de 2015

IVO HEINIG


“Trabalho não mata ninguém”



Ivo Heinig
As mais remotas lembranças que Ivo Heinig guardou da infância e adolescência estão relacionadas ao trabalho. Aliás, ele nasceu no Dia do Trabalho de 1929. Primeiro filho de Leonora e Osvaldo Max Heinig, Ivo cresceu como colaborador e testemunha do desenvolvimento da empresa de seu pai, a Cerâmica Heinig – na época chamada simplesmente de olaria.
A olaria que Osvaldo comprou da família de Jacinto Duarte em 1929 já fabricava tijolos no mesmo endereço no qual permanece até hoje: em Batêas, às margens da rodovia Ivo Silveira, que liga Brusque a Gaspar.
A olaria dos Duarte era tocada por dois filhos de Jacinto. Para amassar o barro, empregavam a força dos bois. Era dado à natureza o tempo que precisava para se encarregar de dar ao produto a consistência necessária. Foi neste cenário que o menino Ivo cresceu ao lado dos cinco irmãos e colaborou para o sustento da jovem família Heinig.
Aos sete anos, Ivo entrou para a escola. A primeira sala de aula que frequentou ficava a seis quilômetros de casa, no centro urbano de Brusque, município que naquela época era muito maior! Do território de Brusque faziam parte os atuais municípios de Vidal Ramos, Presidente Nereu, Botuverá e Guabiruba, emancipados a partir de 1956.
O trajeto de casa para a escola e da escola para casa era cumprido a pé, sob chuva, geada ou sol por uma hora e meia. A estrada era de terra e cheia de curvas. Hoje, seu traçado é coberto em parte pelo asfalto.
Mas, do que ele gostava mesmo era de participar das atividades na olaria, ao lado do pai. Ao retornar da escola, tinha pressa em saborear o prato preparado por dona Leonora, e ia se juntar ao pai nas entregas de carroçadas e mais carroçadas de tijolos.




AS CRIANÇAS PARTICIPAVAM
DO TRABALHO NA EMPRESA FAMILIAR

Aos nove ou dez anos de idade, já era boleeiro ou condutor de carroça. Quando era preciso entregar os pedidos maiores, ele e seu pai seguiam para o endereço do cliente com duas carroças: ele era o boleeiro da segunda carga, seguindo a carroça conduzida por seu pai. Fazer aquele trabalho era um orgulho para os dois!
Nos períodos de geada forte que cobria de branco a estrada tortuosa e a pastagem abundante, os trabalhadores trajavam ponche. O frio era cortante e o trajeto parecia ainda mais longo. O trabalho começava cedo, e só terminava sob a escuridão das noites que no interior eram mais silenciosas.
A família inteira se empenhava na produção dos tijolos: Osvaldo, Leonora e seus filhos, incluindo as meninas, principalmente no período de grandes fornadas! O forno era aberto, tinha quatro paredes e o fogo era aceso embaixo. Dona Leonora trabalhava na olaria no período da manhã, carregando o barro. Depois do almoço que ela preparava, retornava para ajudar no corte dos tijolos.
– Trabalho não mata ninguém! – afirma Ivo Heinig, que mantém vivas na memória as lembranças daqueles dias distantes. – Minha mãe trabalhou muito, morreu aos 92 anos.
A olaria dos Heinig foi crescendo e contratando mão de obra da vizinhança. Teve períodos nos quais contou com meia-dúzia de operários. Em outras épocas, de maior produtividade, abrigou oito trabalhadores.
– Trabalho sempre se arrumava aos montes, sempre tínhamos muito a fazer – contou Ivo. – Não era só o trabalho na olaria. Tinha que cortar trato para os cavalos, cuidar deles...
A produção aumentou, os meninos e as meninas cresceram. Brusque aos poucos conheceu a modernidade. A pequena vila de operários têxteis ganhou status de cidade desenvolvida e de progresso.


ENTRE A CERÂMICA E A BUSCA
POR NOVAS OPORTUNIDADES

Aos poucos, a vida de Ivo Heinig começou a mudar...
            Seu pai já demonstrava cansaço para continuar tocando a cerâmica. Sinal de que era a hora de Ivo – como filho mais velho – assumir os negócios da família.
Porém, Ivo queria uma oportunidade para – pelo menos tentar – mudar um pouco sua história de vida. Casou com Paula da Silva e decidiu empreender em outra área. Montou uma venda – um comércio de secos e molhados, como se dizia naqueles tempos. Ivo preferia chamar de boteco, e depois de um ano e meio convenceu-se de que deveria retornar para a empresa da família.
– Naquela época, tínhamos comprado um caminhão, o que facilitava o transporte da produção – lembrou, referindo-se a um Ford 1946 que, pouco mais tarde, foi trocado por um Chevrolet Brasil, no início da década de 1950.
Na mesma década, investiu em uma serraria, que funcionou por cerca de quatro anos. Só parou quando uma tora que rolou barranco abaixo quebrou sua perna. A solução para seguir a vida estava de novo na olaria, cuja produção cresceu. O que deu a Ivo Heinig estímulo para investir em mão de obra e na construção de algumas casas para os trabalhadores.
Por alguns anos, enquanto a produção de tijolos seguia em bom ritmo, Ivo trabalhou com um de seus tios transportando arroz de caminhão para abastecer algumas cidades paranaenses, no fim da década de 1950 e início da década de 1960.
A pequena olaria se transformou em uma cerâmica com grande capacidade de produção. Foi um período no qual passou a contar com a força de um motor a óleo diesel. Iniciou a produção de tijolos furados no final da década de 1960, com a compra de uma máquina em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Uma longa viagem de ônibus que o encorajou a fazer empréstimo junto ao Banco do Brasil para incrementar a produção.
A implantação da rede de energia elétrica nas comunidades do interior de Brusque, deu novo impulso à indústria familiar. Resultados estimulantes começaram a aparecer também para os Heinig!


CHEGOU O DIA EM QUE
A EMPRESA MUDOU DE MÃOS

O crescimento da empresa e as transformações pelas quais ela passou nos últimos trinta anos, deixam Ivo Heinig otimista quanto ao futuro. Assim como um dia aconteceu com seu pai, Ivo decidiu que era hora de passar o comando da empresa para Ivo Heinig Junior – o Ivinho.
Era meados da década de 1980, a Cerâmica Heinig operava com 11 fornos antigos. Ivinho propôs ao pai a substituição destes por fornos em túnel. Era inovar ou parar, na sua opinião. Foi quando seu pai deu a ele autonomia para dar início às transformações que conduziram os destinos da empresa até os dias atuais.
Até que em 2008, em função de uma catástrofe que marcou a história dos municípios do Vale do Itajaí-Mirim, o novo administrador da cerâmica se viu obrigado a rever os planos de expansão da empresa e redirecionar o foco de sua produção. Foi deflagrada a busca por uma novidade, por um produto que agregasse valor à produção...
Enquanto isso, as jazidas de matéria-prima que durante décadas serviam à cerâmica, deixaram de ser acessadas por causa da catástrofe. Por pouco, a empresa não parou sua produção e nem encerrou suas atividades, com o início de uma das maiores crises no setor. Outras empresas similares de Brusque e região haviam fechado suas portas. Restaram apenas os Heinig em Brusque e os Westarb em Guabiruba.
O crescimento vertiginoso da construção civil estimulou a construção de galpões em grande número. O que aqueceu o mercado cerâmico, até que passaram a substituí-los por paredes pré-moldadas. O sinal de alerta foi acionado de novo, era chegada a hora de repensar o futuro na empresa dos Heinig.
Uma história de oito décadas precisava ser mantida, um empreendimento precisava ser revitalizado! Começou a busca por uma alternativa que permitisse a continuidade da produção e – se possível! – exigisse menores investimentos em equipamentos, matéria prima, menos funcionários, menos caminhões rodando...


O CAMINHO QUE LEVA AO FUTURO
FAZ O RETORNO AO PASSADO

Teve início um novo tempo de transformações na história desta família empreendedora. Oitenta e cinco anos depois que Osvaldo Heinig deu início à produção do primeiro tijolo na sua olaria, a Cerâmica Heinig – embora apostando em novos produtos e vislumbrando mercado promissor em um futuro próximo – empreendeu uma corajosa viagem de volta às suas origens e ao tempo da produção artesanal.
Está aos poucos maturando a ideia em deixar de produzir tijolos furados para apostar na produção de revestimento cerâmico. A inovação que Ivinho buscava para a empresa de seu avô e de seu pai, chegou a poucos meses, resultado de parceria com uma empresa Italiana que já atuava no mercado brasileiro. Suas máquinas, instaladas em Brusque estão em fase de testes para a fabricação de artigos que representam a inovação sonhada pelo empresário.
A cerâmica vermelha – aquela tradicional, produtora de tijolos maciços ou furados –, na visão dos Heinig, é hoje um setor que vende um produto que, embora essencial para o setor da construção civil, é vendido a baixo valor enquanto a sua produção exige investimentos elevados e convive com questões de ordem ambiental.
A produção com tecnologia italiana vai levar a empresa Heinig a atuar em parceria com construtores, engenheiros e arquitetos que não precisarão mais encomendar tijolos em milheiros, mas comprar revestimentos cerâmicos por metro quadrado para utilizar no acabamento de suas obras de arte. Sua produção vai ditar moda no setor da construção civil!

Texto: Revista Lions Berço da Fiação

Um comentário:

Unknown disse...

Gostaria de ver novamente essa família que meu trabalho pra eles quando eu ainda era criança