“Trabalho
não mata ninguém”
| Ivo Heinig |
As mais remotas lembranças
que Ivo Heinig guardou da infância e adolescência estão relacionadas ao
trabalho. Aliás, ele nasceu no Dia do Trabalho de 1929. Primeiro filho de
Leonora e Osvaldo Max Heinig, Ivo cresceu como colaborador e testemunha do
desenvolvimento da empresa de seu pai, a Cerâmica Heinig – na época chamada
simplesmente de olaria.
A olaria que Osvaldo
comprou da família de Jacinto Duarte em 1929 já fabricava tijolos no mesmo endereço
no qual permanece até hoje: em Batêas, às margens da rodovia Ivo Silveira, que
liga Brusque a Gaspar.
A olaria dos Duarte era
tocada por dois filhos de Jacinto. Para amassar o barro, empregavam a força dos bois. Era dado à natureza o
tempo que precisava para se encarregar de dar ao produto a consistência
necessária. Foi neste cenário que o menino Ivo cresceu ao lado dos cinco irmãos
e colaborou para o sustento da jovem família Heinig.
Aos sete anos, Ivo entrou
para a escola. A primeira sala de aula que frequentou ficava a seis quilômetros
de casa, no centro urbano de Brusque, município que naquela época era muito
maior! Do território de Brusque faziam parte os atuais municípios de Vidal
Ramos, Presidente Nereu, Botuverá e Guabiruba, emancipados a partir de 1956.
O trajeto de casa para a
escola e da escola para casa era cumprido a pé, sob chuva, geada ou sol por uma
hora e meia. A estrada era de terra e cheia de curvas. Hoje, seu traçado é
coberto em parte pelo asfalto.
Mas, do que ele gostava
mesmo era de participar das atividades na olaria, ao lado do pai. Ao retornar
da escola, tinha pressa em saborear o prato preparado por dona Leonora, e ia se
juntar ao pai nas entregas de carroçadas
e mais carroçadas de tijolos.
AS CRIANÇAS PARTICIPAVAM
DO TRABALHO NA EMPRESA FAMILIAR
Aos nove ou dez anos de
idade, já era boleeiro ou condutor de carroça. Quando era preciso entregar os
pedidos maiores, ele e seu pai seguiam para o endereço do cliente com duas
carroças: ele era o boleeiro da segunda carga, seguindo a carroça conduzida por
seu pai. Fazer aquele trabalho era um
orgulho para os dois!
Nos períodos de geada
forte que cobria de branco a estrada tortuosa e a pastagem abundante, os
trabalhadores trajavam ponche. O frio era cortante e o trajeto parecia ainda
mais longo. O trabalho começava cedo, e só terminava sob a escuridão das noites
que no interior eram mais silenciosas.
A família inteira se
empenhava na produção dos tijolos: Osvaldo, Leonora e seus filhos, incluindo as
meninas, principalmente no período de grandes fornadas! O forno era aberto,
tinha quatro paredes e o fogo era aceso embaixo. Dona Leonora trabalhava na
olaria no período da manhã, carregando o barro. Depois do almoço que ela
preparava, retornava para ajudar no corte
dos tijolos.
– Trabalho não mata
ninguém! – afirma Ivo Heinig, que mantém vivas na memória as lembranças
daqueles dias distantes. – Minha mãe trabalhou muito, morreu aos 92 anos.
A olaria dos Heinig foi
crescendo e contratando mão de obra da vizinhança. Teve períodos nos quais
contou com meia-dúzia de operários. Em outras épocas, de maior produtividade,
abrigou oito trabalhadores.
– Trabalho sempre se
arrumava aos montes, sempre tínhamos muito a fazer – contou Ivo. – Não era só o
trabalho na olaria. Tinha que cortar trato para os cavalos, cuidar deles...
A produção aumentou, os
meninos e as meninas cresceram. Brusque aos poucos conheceu a modernidade. A pequena vila de operários
têxteis ganhou status de cidade
desenvolvida e de progresso.
ENTRE A CERÂMICA E A BUSCA
POR NOVAS OPORTUNIDADES
Aos poucos, a vida de Ivo
Heinig começou a mudar...
Seu
pai já demonstrava cansaço para continuar tocando a cerâmica. Sinal de que era
a hora de Ivo – como filho mais velho – assumir os negócios da família.
Porém, Ivo queria uma
oportunidade para – pelo menos tentar – mudar um pouco sua história de vida.
Casou com Paula da Silva e decidiu empreender em outra área. Montou uma venda –
um comércio de secos e molhados, como se dizia naqueles tempos. Ivo preferia
chamar de boteco, e depois de um ano
e meio convenceu-se de que deveria retornar para a empresa da família.
– Naquela época, tínhamos
comprado um caminhão, o que facilitava o transporte da produção – lembrou,
referindo-se a um Ford 1946 que, pouco mais tarde, foi trocado por um Chevrolet
Brasil, no início da década de 1950.
Na mesma década, investiu
em uma serraria, que funcionou por cerca de quatro anos. Só parou quando uma
tora que rolou barranco abaixo quebrou sua perna. A solução para seguir a vida
estava de novo na olaria, cuja produção cresceu. O que deu a Ivo Heinig estímulo
para investir em mão de obra e na construção de algumas casas para os
trabalhadores.
Por alguns anos, enquanto
a produção de tijolos seguia em bom ritmo, Ivo trabalhou com um de seus tios
transportando arroz de caminhão para abastecer algumas cidades paranaenses, no
fim da década de 1950 e início da década de 1960.
A pequena olaria se
transformou em uma cerâmica com grande capacidade de produção. Foi um período
no qual passou a contar com a força de um motor a óleo diesel. Iniciou a
produção de tijolos furados no final da década de 1960, com a compra de uma
máquina em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Uma longa viagem de ônibus que o
encorajou a fazer empréstimo junto ao Banco do Brasil para incrementar a
produção.
A implantação da rede de
energia elétrica nas comunidades do interior de Brusque, deu novo impulso à
indústria familiar. Resultados estimulantes começaram a aparecer também para os
Heinig!
CHEGOU O DIA EM QUE
A EMPRESA MUDOU DE MÃOS
O crescimento da empresa e
as transformações pelas quais ela passou nos últimos trinta anos, deixam Ivo
Heinig otimista quanto ao futuro. Assim como um dia aconteceu com seu pai, Ivo
decidiu que era hora de passar o comando da empresa para Ivo Heinig Junior – o
Ivinho.
Era meados da década de
1980, a Cerâmica Heinig operava com 11 fornos antigos. Ivinho propôs ao pai a
substituição destes por fornos em túnel. Era inovar ou parar, na sua opinião.
Foi quando seu pai deu a ele autonomia para dar início às transformações que
conduziram os destinos da empresa até os dias atuais.
Até que em 2008, em função
de uma catástrofe que marcou a história dos municípios do Vale do Itajaí-Mirim,
o novo administrador da cerâmica se viu obrigado a rever os planos de expansão
da empresa e redirecionar o foco de sua produção. Foi deflagrada a busca por
uma novidade, por um produto que agregasse valor à produção...
Enquanto isso, as jazidas
de matéria-prima que durante décadas serviam à cerâmica, deixaram de ser
acessadas por causa da catástrofe. Por pouco, a empresa não parou sua produção
e nem encerrou suas atividades, com o início de uma das maiores crises no
setor. Outras empresas similares de Brusque e região haviam fechado suas
portas. Restaram apenas os Heinig em Brusque e os Westarb em Guabiruba.
O crescimento vertiginoso
da construção civil estimulou a construção de galpões em grande número. O que
aqueceu o mercado cerâmico, até que passaram a substituí-los por paredes pré-moldadas.
O sinal de alerta foi acionado de novo, era chegada a hora de repensar o futuro
na empresa dos Heinig.
Uma história de oito
décadas precisava ser mantida, um empreendimento precisava ser revitalizado!
Começou a busca por uma alternativa que permitisse a continuidade da produção e
– se possível! – exigisse menores investimentos em equipamentos, matéria prima,
menos funcionários, menos caminhões rodando...
O CAMINHO QUE LEVA AO FUTURO
FAZ O RETORNO AO PASSADO
Teve início um novo tempo
de transformações na história desta família empreendedora. Oitenta e cinco anos
depois que Osvaldo Heinig deu início à produção do primeiro tijolo na sua
olaria, a Cerâmica Heinig – embora apostando em novos produtos e vislumbrando
mercado promissor em um futuro próximo – empreendeu uma corajosa viagem de
volta às suas origens e ao tempo da produção artesanal.
Está aos poucos maturando
a ideia em deixar de produzir tijolos furados para apostar na produção de revestimento
cerâmico. A inovação que Ivinho buscava para a empresa de seu avô e de seu pai,
chegou a poucos meses, resultado de parceria com uma empresa Italiana que já
atuava no mercado brasileiro. Suas máquinas, instaladas em Brusque estão em
fase de testes para a fabricação de artigos que representam a inovação sonhada
pelo empresário.
A cerâmica vermelha –
aquela tradicional, produtora de tijolos maciços ou furados –, na visão dos
Heinig, é hoje um setor que vende um produto que, embora essencial para o setor
da construção civil, é vendido a baixo valor enquanto a sua produção exige
investimentos elevados e convive com questões de ordem ambiental.
A produção com tecnologia
italiana vai levar a empresa Heinig a atuar em parceria com construtores, engenheiros
e arquitetos que não precisarão mais encomendar tijolos em milheiros, mas
comprar revestimentos cerâmicos por metro quadrado para utilizar no acabamento
de suas obras de arte. Sua produção vai ditar moda no setor da construção
civil!
Texto: Revista Lions Berço
da Fiação
Um comentário:
Gostaria de ver novamente essa família que meu trabalho pra eles quando eu ainda era criança
Postar um comentário