“O
segredo é a velocidade!”
| Eloy Marcilio de Sousa Junior |
Houve um tempo no qual uma
pequena oficina mecânica poderia ser a
salvação de uma grande indústria. A oficina da família Siemsen era assim: convocada para salvar o dia quando
quebrava a engrenagem de um tear que movimentava a pujante indústria têxtil de
Brusque.
Os teares que
impulsionaram a indústria brusquense não eram necessariamente a última palavra
em tecnologia. Nem sempre eram dos modelos que estavam sendo usados na mesma
época na Europa. O que significava dizer que se um tear sueco necessitasse de
reposição de peça, esta poderia levar quase um semestre para chegar!
Os irmãos Siemsen eram
habilidosos mecânicos que sabiam fazer peças especiais de qualidade. Eles salvavam o seu dia e devolviam ao tear sua voz singular em poucas horas. Depois
disso, a vida seguia como deveria seguir: em frente!
Da reposição de peças para
teares à produção de bombas d’água. Fornecimento de água potável era outra
necessidade urgente daqueles tempos, a oficina dos Siemsen também prosperou
fabricando máquinas para a indústria alimentícia.
Porém, a empresa não
prosperava tanto quanto sua oficina. Tanto é verdade que num determinado período
os Siemsen enfrentaram dificuldades e tiveram nove sócios. Foi quando decidiram
vender a empresa.
Gentil Albani, diretor
administrativo da Buettner, ficou interessado na oportunidade. Conversou com
seu genro Eloy Marcilio de Sousa, que trabalhava na Malária – atual Sucam,
ligada ao Ministério da Saúde. A proposta era simples: Gentil seria responsável
pela parte administrativa e Eloy pela parte industrial.
Assim que assumiu, Eloy
voltou as atenções para o setor alimentício, fabricando máquinas serra-fita
para açougues, processadores de alimentos, fritadeiras... A produção crescente
exigiu gestão, foi quando Albani deixou seu trabalho na Buettner e veio se
juntar ao genro na empresa familiar em franca expansão.
O escritório da oficina
precisava ser lavado, e não apenas
limpo, tarefa que era dividida entre os demais membros da família. A esposa de
Eloy, Marcia Valtrudes – rainha do primeiro centenário de Brusque (1960) –
sempre levava junto o pequeno Eloy Junior.
A conduta adotada pelo
sogro e pelo genro empreendedores foi simples, segundo palavras de Eloy Marcilio
de Sousa:
– Seguir as pegadas que já
existiam.
– Pautar pelo melhor
produto, sempre.
– Adotar uma política que
mantêm até hoje: o pós-venda.
“MEU
FILHO, VAI FAZER OUTRA COISA!”
Desde menino, Eloy Junior gostava
de ir à empresa. Gostava de ver o seu pai trabalhando às voltas com as soluções
contratadas pelos clientes da oficina, agora chamada de fábrica ou metalúrgica.
Gostava de ver seu avô materno trabalhando na gerência, às voltas com tantas
responsabilidades...
O menino obviamente pensava:
– Eu também quero
trabalhar aqui!
Não foram poucas as vezes
nas quais seu pai o desencorajou:
– Meu filho, vai fazer
outra coisa!
Eloy pai enumerava para
ele todos os problemas que o menino conheceria bem de perto em um futuro
próximo, por não ter dado ouvido aos
conselhos do pai. Administrar uma empresa, lidar com pessoas e enfrentar as
incertezas jurídicas não era tarefa fácil. Não é – até hoje. Mas Eloy Marcilio
de Sousa Junior insistiu, perseverou e um dia assumiu os destinos da
Metalúrgica Siemsen porque era isso
que ele queria fazer:
– Sempre gostei da parte
industrial, de conhecer como funcionavam as coisas. Por isso, vinha à empresa,
fabricava minha própria carriola de madeira, minha canoazinha...
Cresceu com o desejo de
cursar Engenharia Mecânica e outras faculdades que, de acordo com suas opções,
respondiam às perguntas que faziam parte do dia a dia do trabalho na empresa.
Ele queria ser – e enfim passou a ser – um generalista: alguém que entendia um
pouco de tudo.
Enquanto crescia, o menino
se integrava à empresa e se divertia. Afinal, as crianças e adolescentes de
Brusque daqueles tempos viveram uma vida
diferente. Meninos e meninas viviam de joelhos ralados, brincavam ao ar
livre, tomavam banho de rio, construíam seus próprios brinquedos, disputavam
poltronas vagas nas matinês do cinema local, colecionavam figurinhas e gibis...
Eloy Junior gostava de
brincar de carriola nas ruas, descendo o morro do Colégio Cônsul Carlos Renaux
na direção da agência dos Correios, até a esquina com a Casa do Rádio. Era uma
festa quando o cavalo de pau dava certo – e um berreiro, quando não!
Atrás do Correio, tinha pé
de goiaba vermelha, o único da região. Depois da corrida de carriola, iam catar
e se fartar de goiabas. O Parque Centenário já havia sido desmontado, mas os
pés de bambu ainda estavam lá. Estes eram atacados
para fazer trave para o campinho de futebol e para fazer as caprichadas varas
de pescar.
Gostava de fabricar iole, uma
canoa construída com sarrafinhos revistados com um tecido conhecido como lonita. Este tecido era comprado na Loja
Renaux. As tintas para decorar o tecido da iole com umas pinturas bacanas que
os próprios garotos criavam, eram compradas na Vidraçaria Cristal.
Ah! E os testes de navegabilidade eram feitos nas
águas do rio Itajaí-Mirim, que desafiava até os mais habilidosos nadadores. Naquele
tempo, havia muita água no rio – e até correnteza!
E, é claro, também havia
enchentes...
A
BUSCA PELO CONHECIMENTO
De 1982 a 1987, Eloy
Junior morou em duas cidades: em Florianópolis, onde foi cursar Engenharia
Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina, e em Brusque – para onde
retornava aos finais de semana.
Na época, o aparelho de vídeo
cassete era uma das máquinas mais cobiçadas pelos adeptos do cinema e das
demais artes cênicas e visuais. O aparelho de fax – capaz de enviar uma xerox à distância! – operava em
salas reservadas de grandes empresas! O micro-ondas foi criado para facilitar a
vida de quem era obrigado a conciliar trabalho e serviços de casa e não tinha
muitas opções para almoçar fora.
Tudo era novo, custava
caro e parecia inatingível...
Foi naquela época que Eloy
Junior percebeu que quem vencia era aquele capaz de ser o mais rápido! Na infância e adolescência, testemunhou a história
de empresas que cresciam muito... e depois se tornavam inertes. Não era isso
que ele queria para a empresa que administraria, a empresa na qual estava
trabalhando desde os 16 anos de idade.
ALGUMAS COISAS QUE
APRENDEU
– O segredo de hoje é a
velocidade!
– Não existe dinheiro fácil!
– É preciso ouvir o
cliente!
UMA
KITNET PARA 5
Estudar em Florianópolis.
A princípio, poderia parecer um sonho, naqueles tempos. E era! Principalmente
um sonho realizado pelos meninos do interior que estavam buscando capacitação
para suas profissões futuras, como era o caso de Eloy Junior.
Mas, o glamour desaparecia quando era a hora de
se deslocar entre Brusque e Florianópolis e, principalmente, quando era hora de
definir aonde e como morar.
Onde?
– Uma kitnet próxima da universidade e beeeem
longe de casa!
Como
chegar? – A viagem de ônibus podia levar de duas horas –
quando seguiam pela BR-101, permanentemente em obras, e sem pistas duplas; ou
até cinco horas, quando a opção era seguir por Nova Trento, São João Batista,
Canelinha, Tijucas...
Visitas
à família? – Brusque era o destino dos fins de semana.
Ocupantes
da kitnet? – Em média cinco estudantes, que se espalhavam pelo
imóvel e, assim como ele, também tinha que permanecer praticamente imóveis!
A kitnet tinha um quarto,
sala e cozinha conjugados e um banheiro. Era preciso criar uma rotina militar
para que todos pudessem fazer tudo o que fosse necessário. Todos, porque muitas vezes o espaço era ocupado por Eloy Junior e
mais quatro ou cinco colegas brusquenses: Valter Straetz, João Batista Bonatelli,
Valmor Borba, Luciano Pinotti, Alexandre Moresco...
Ah, sim! Por falar em
banheiro...
Um dia, espanou a tranca
do chuveiro. Não adiantava apertar, acontecia de novo... A solução foi usar tecnologia de ponta: um vidro de
conserva (vazio!) na ponta de um cabo de vassoura! Só voltava a incomodar
quando algum morador distraído deixava o vidro de conserva bater contra o piso
do banheiro...
Estragou a descarga da
patente? Chama o pedreiro!
O profissional fez o
conserto, foi embora... e deixou um buraco na parede. Fácil de resolver: colaram
folhas de cartolinas nas cores preferidas pelos moradores, e tudo estava de
volta à normalidade – pelo menos, por dentro!
Frequentando duas
faculdades ao mesmo tempo, não sobrava tempo para Eloy Junior estudar. A
solução estava no banho: encapava os cadernos e livros com plástico e lia
enquanto tomava banho...
Foram seis anos no mesmo
ritmo. Um ritmo tão acelerado que ele só conseguiu chegar à praia de
Florianópolis seis vezes:
– Tinha que trabalhar,
nada caía do céu!
Nem a úlcera duodenal que
o acompanha desde os 16 anos.
A
VOLTA PARA CASA
Em 1988, o sonho de Eloy
Junior finalmente foi realizado: ele assumiu suas responsabilidades junto a
Metalúrgica Siemsen. Seu pai e seu avô ainda estavam na empresa, até que após a
saída do avô Eloy pai e Eloy filho compraram as cotas e passaram a ser os comandantes.
O principal desafio
enfrentado pelo novo empreendedor foi a parte organizacional. Era preciso ter
controle de todos os processos – produtivos e administrativos. Fazer tudo de
forma integrada. Somente depois disso podiam dizer afinal que tinham a empresa em suas mãos.
Texto: Revista Lions Berço
da Fiação
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