sábado, 11 de abril de 2015

ELOY MARCILIO DE SOUSA JUNIOR


“O segredo é a velocidade!”

Eloy Marcilio de Sousa Junior
Houve um tempo no qual uma pequena oficina mecânica poderia ser a salvação de uma grande indústria. A oficina da família Siemsen era assim: convocada para salvar o dia quando quebrava a engrenagem de um tear que movimentava a pujante indústria têxtil de Brusque.
Os teares que impulsionaram a indústria brusquense não eram necessariamente a última palavra em tecnologia. Nem sempre eram dos modelos que estavam sendo usados na mesma época na Europa. O que significava dizer que se um tear sueco necessitasse de reposição de peça, esta poderia levar quase um semestre para chegar!
Os irmãos Siemsen eram habilidosos mecânicos que sabiam fazer peças especiais de qualidade. Eles salvavam o seu dia e devolviam ao tear sua voz singular em poucas horas. Depois disso, a vida seguia como deveria seguir: em frente!
Da reposição de peças para teares à produção de bombas d’água. Fornecimento de água potável era outra necessidade urgente daqueles tempos, a oficina dos Siemsen também prosperou fabricando máquinas para a indústria alimentícia.
Porém, a empresa não prosperava tanto quanto sua oficina. Tanto é verdade que num determinado período os Siemsen enfrentaram dificuldades e tiveram nove sócios. Foi quando decidiram vender a empresa.
Gentil Albani, diretor administrativo da Buettner, ficou interessado na oportunidade. Conversou com seu genro Eloy Marcilio de Sousa, que trabalhava na Malária – atual Sucam, ligada ao Ministério da Saúde. A proposta era simples: Gentil seria responsável pela parte administrativa e Eloy pela parte industrial.
Assim que assumiu, Eloy voltou as atenções para o setor alimentício, fabricando máquinas serra-fita para açougues, processadores de alimentos, fritadeiras... A produção crescente exigiu gestão, foi quando Albani deixou seu trabalho na Buettner e veio se juntar ao genro na empresa familiar em franca expansão.
O escritório da oficina precisava ser lavado, e não apenas limpo, tarefa que era dividida entre os demais membros da família. A esposa de Eloy, Marcia Valtrudes – rainha do primeiro centenário de Brusque (1960) – sempre levava junto o pequeno Eloy Junior.
A conduta adotada pelo sogro e pelo genro empreendedores foi simples, segundo palavras de Eloy Marcilio de Sousa:

– Seguir as pegadas que já existiam.
– Pautar pelo melhor produto, sempre.
– Adotar uma política que mantêm até hoje: o pós-venda.


“MEU FILHO, VAI FAZER OUTRA COISA!”

Desde menino, Eloy Junior gostava de ir à empresa. Gostava de ver o seu pai trabalhando às voltas com as soluções contratadas pelos clientes da oficina, agora chamada de fábrica ou metalúrgica. Gostava de ver seu avô materno trabalhando na gerência, às voltas com tantas responsabilidades...
O menino obviamente pensava:
– Eu também quero trabalhar aqui!
Não foram poucas as vezes nas quais seu pai o desencorajou:
– Meu filho, vai fazer outra coisa!
Eloy pai enumerava para ele todos os problemas que o menino conheceria bem de perto em um futuro próximo, por não ter dado ouvido aos conselhos do pai. Administrar uma empresa, lidar com pessoas e enfrentar as incertezas jurídicas não era tarefa fácil. Não é – até hoje. Mas Eloy Marcilio de Sousa Junior insistiu, perseverou e um dia assumiu os destinos da Metalúrgica Siemsen porque era isso que ele queria fazer:
– Sempre gostei da parte industrial, de conhecer como funcionavam as coisas. Por isso, vinha à empresa, fabricava minha própria carriola de madeira, minha canoazinha...
Cresceu com o desejo de cursar Engenharia Mecânica e outras faculdades que, de acordo com suas opções, respondiam às perguntas que faziam parte do dia a dia do trabalho na empresa. Ele queria ser – e enfim passou a ser – um generalista: alguém que entendia um pouco de tudo.
Enquanto crescia, o menino se integrava à empresa e se divertia. Afinal, as crianças e adolescentes de Brusque daqueles tempos viveram uma vida diferente. Meninos e meninas viviam de joelhos ralados, brincavam ao ar livre, tomavam banho de rio, construíam seus próprios brinquedos, disputavam poltronas vagas nas matinês do cinema local, colecionavam figurinhas e gibis...
Eloy Junior gostava de brincar de carriola nas ruas, descendo o morro do Colégio Cônsul Carlos Renaux na direção da agência dos Correios, até a esquina com a Casa do Rádio. Era uma festa quando o cavalo de pau dava certo – e um berreiro, quando não!
Atrás do Correio, tinha pé de goiaba vermelha, o único da região. Depois da corrida de carriola, iam catar e se fartar de goiabas. O Parque Centenário já havia sido desmontado, mas os pés de bambu ainda estavam lá. Estes eram atacados para fazer trave para o campinho de futebol e para fazer as caprichadas varas de pescar.
Gostava de fabricar iole, uma canoa construída com sarrafinhos revistados com um tecido conhecido como lonita. Este tecido era comprado na Loja Renaux. As tintas para decorar o tecido da iole com umas pinturas bacanas que os próprios garotos criavam, eram compradas na Vidraçaria Cristal.
Ah! E os testes de navegabilidade eram feitos nas águas do rio Itajaí-Mirim, que desafiava até os mais habilidosos nadadores. Naquele tempo, havia muita água no rio – e até correnteza!
E, é claro, também havia enchentes...


A BUSCA PELO CONHECIMENTO

De 1982 a 1987, Eloy Junior morou em duas cidades: em Florianópolis, onde foi cursar Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina, e em Brusque – para onde retornava aos finais de semana.
Na época, o aparelho de vídeo cassete era uma das máquinas mais cobiçadas pelos adeptos do cinema e das demais artes cênicas e visuais. O aparelho de fax – capaz de enviar uma xerox à distância! – operava em salas reservadas de grandes empresas! O micro-ondas foi criado para facilitar a vida de quem era obrigado a conciliar trabalho e serviços de casa e não tinha muitas opções para almoçar fora.
Tudo era novo, custava caro e parecia inatingível...
Foi naquela época que Eloy Junior percebeu que quem vencia era aquele capaz de ser o mais rápido! Na infância e adolescência, testemunhou a história de empresas que cresciam muito... e depois se tornavam inertes. Não era isso que ele queria para a empresa que administraria, a empresa na qual estava trabalhando desde os 16 anos de idade.

ALGUMAS COISAS QUE APRENDEU
– O segredo de hoje é a velocidade!
– Não existe dinheiro fácil!
– É preciso ouvir o cliente!


UMA KITNET PARA 5

Estudar em Florianópolis. A princípio, poderia parecer um sonho, naqueles tempos. E era! Principalmente um sonho realizado pelos meninos do interior que estavam buscando capacitação para suas profissões futuras, como era o caso de Eloy Junior.
Mas, o glamour desaparecia quando era a hora de se deslocar entre Brusque e Florianópolis e, principalmente, quando era hora de definir aonde e como morar.
Onde? – Uma kitnet próxima da universidade e beeeem longe de casa!
Como chegar? – A viagem de ônibus podia levar de duas horas – quando seguiam pela BR-101, permanentemente em obras, e sem pistas duplas; ou até cinco horas, quando a opção era seguir por Nova Trento, São João Batista, Canelinha, Tijucas...
Visitas à família? – Brusque era o destino dos fins de semana.
Ocupantes da kitnet? – Em média cinco estudantes, que se espalhavam pelo imóvel e, assim como ele, também tinha que permanecer praticamente imóveis!
A kitnet tinha um quarto, sala e cozinha conjugados e um banheiro. Era preciso criar uma rotina militar para que todos pudessem fazer tudo o que fosse necessário. Todos, porque muitas vezes o espaço era ocupado por Eloy Junior e mais quatro ou cinco colegas brusquenses: Valter Straetz, João Batista Bonatelli, Valmor Borba, Luciano Pinotti, Alexandre Moresco...
Ah, sim! Por falar em banheiro...
Um dia, espanou a tranca do chuveiro. Não adiantava apertar, acontecia de novo... A solução foi usar tecnologia de ponta: um vidro de conserva (vazio!) na ponta de um cabo de vassoura! Só voltava a incomodar quando algum morador distraído deixava o vidro de conserva bater contra o piso do banheiro...
Estragou a descarga da patente? Chama o pedreiro!
O profissional fez o conserto, foi embora... e deixou um buraco na parede. Fácil de resolver: colaram folhas de cartolinas nas cores preferidas pelos moradores, e tudo estava de volta à normalidade – pelo menos, por dentro!
Frequentando duas faculdades ao mesmo tempo, não sobrava tempo para Eloy Junior estudar. A solução estava no banho: encapava os cadernos e livros com plástico e lia enquanto tomava banho...
Foram seis anos no mesmo ritmo. Um ritmo tão acelerado que ele só conseguiu chegar à praia de Florianópolis seis vezes:
– Tinha que trabalhar, nada caía do céu!
Nem a úlcera duodenal que o acompanha desde os 16 anos.


A VOLTA PARA CASA

Em 1988, o sonho de Eloy Junior finalmente foi realizado: ele assumiu suas responsabilidades junto a Metalúrgica Siemsen. Seu pai e seu avô ainda estavam na empresa, até que após a saída do avô Eloy pai e Eloy filho compraram as cotas e passaram a ser os comandantes.

O principal desafio enfrentado pelo novo empreendedor foi a parte organizacional. Era preciso ter controle de todos os processos – produtivos e administrativos. Fazer tudo de forma integrada. Somente depois disso podiam dizer afinal que tinham a empresa em suas mãos.

Texto: Revista Lions Berço da Fiação

Nenhum comentário: