“Fazíamos
dois tubos por dia”
| Ademir José Pereira |
Em 1960, o município de Brusque havia
comemorado com festa seu primeiro centenário de fundação.
Dois anos depois, o prefeito Carlos Moritz,
médico conceituado na região, enfrentava os problemas comuns às administrações
do interior: poucas estradas pavimentadas, necessidade de ampliar o saneamento
básico – redes de água potável, energia elétrica e rede de esgotos eram as
principais reivindicações.
A indústria mais expressiva era a têxtil,
que recrutava e empregava boa parte da mão de obra disponível na cidade e
região. Na época, o território de Brusque era maior, compreendendo os atuais
municípios de Guabiruba e Botuverá – emancipados naquele ano de 1962.
Na época, Ademir José Pereira tinha 14
anos. Tanto ele quanto os demais moradores da rua Vicente Schaefer esperavam
ansiosos pela tubulação de esgoto, que corria a céu aberto. Foi quando seu pai,
Manoel Vergílio Pereira, conhecido como, Nezo, que já havia trabalhado na
prefeitura, procurou Carlos Moritz e levou a ele a reivindicação dos moradores.
O prefeito explicou que talvez a solução
para o problema do esgoto tivesse que aguardar mais um pouco:
– Eu não tenho tubos, por isso não tenho
como fazer já – argumentou o prefeito.
Na mesma conversa, Moritz lembrou de um
detalhe importante:
– Temos no almoxarifado da prefeitura duas
formas de tubos de 30.
Na época, as prefeituras do interior tinham
o hábito de produzir os tubos de acordo com a necessidade do andamento das
obras de saneamento básico. Não havia fábrica deste gênero na cidade, eram
poucos os municípios próximos que as tinha, também.
– Se alguém quiser fazer os tubos, pode
ficar à vontade – disse o prefeito.
– Se o senhor quiser, eu faço! –
prontificou-se Nezo Pereira. – Se o senhor tem a forma, eu vou fazendo os tubos.
–
Então, o senhor faça, e na hora que estiverem prontos, é só me avisar e
mandarei fazer a rede de esgoto! – confirmou Carlos Moritz.
Um aperto de mãos selou o combinado.
PALAVRA
DADA, ACORDO CUMPRIDO!
As formas para fazer tubos de cimento foram
desembarcadas na rua Vicente Schaefer. Nezo e seu filho Ademir e Roseli
colocaram a mão na massa e deram início à produção! Sem que se dessem conta,
pai e filhos criaram naquele dia o embrião de uma nova indústria local surgida
do atendimento à necessidade coletiva.
Eram produzidos dois tubos por dia. Os
tubos eram modelados e tinham um tempo para secar. Não era possível fazer de
outro modo. Aos poucos, a pilha de tubos começou a crescer.
Cresceu mais e mais...
Até que chegou o dia em que o volume
necessário para implantar a rede de esgotos na rua Vicente Schaefer estava
pronto. Uma pilha de tubos que chamou a atenção de outras pessoas que, a
exemplo daqueles moradores, também precisavam implantar suas redes de esgoto.
– Quanto o senhor está pedindo por estes
tubos? – vieram perguntar a Nezo Pereira.
– Eu fiz estes tubos para o prefeito
implantar a nossa rede de esgotos – respondia. – Posso falar com o prefeito, e
se ele autorizar eu os vendo para o senhor.
Trato feito, Nezo Pereira foi ao gabinete
do prefeito.
– Agora, eu não tenho condições, nem
máquina e nem pessoal para fazer o serviço – respondeu o prefeito. – O senhor
faça o seguinte: vá vendendo e fazendo mais tubos.
Aos poucos, enquanto a pilha de
tubos prontos ia diminuindo, uma nova série era fabricada – de dois em dois,
dia após dia...
Até que o prefeito conseguiu agendar o
serviço na rua Vicente Schaefer. Vieram as máquinas e os operários, em poucos
dias a obra foi concluída e comemorada com entusiasmo pelos moradores e pela
administração: a união de esforços trouxe os benefícios tão aguardados!
A “COLÔNIA”
DOS PEREIRA
Na rua Vicente Schaefer havia uma espécie
de “colônia” da família Pereira, oriunda do município de Tijucas, descendentes
de Vergilio Quintino Pereira Rodrigues, pai de 13 filhos – dois com o sobrenome Pereira. Um deles, era Nezo Pereira.
Ei! Espera aí! Era Pereira ou era
Rodrigues?
Pois é, foi uma das peraltices dos
cartorários de então.
A nova indústria de Brusque recebeu o nome
de Irmãos Rodrigues, reunindo quatro irmãos, como recordou Ademir José Pereira:
– 0LI RODRIGUES, meu tio, foi ponta esquerda do Clube Atlético
Carlos Renaux e trabalhava nos correios, era o cabeça da família. Meu pai MANOEL VERGILIO PEREIRA era
analfabeto, mas muito esperto e
trabalhador.. Tio OLI chamou meu pai e
propôs uma sociedade, transformando a ideia de fabricar tubos em uma empresa
familiar. Foi chamada outro irmão, ODI RODRIGUES, que mais tarde assumia a
gerencia da futura empresa. O tio ODI, trabalhou muitos anos, com o primo Ivo Quintino
Rodrigues, na fabrica de Carrocerias Diegoli, produzindo carrocerias para caminhões e
carroças. O IVO passou a ser o quarto e ultimo sócio da empresa.
A empresa foi criada e começou a produzir.
Aliás, continuou produzindo dois tubos por dia e artefatos de cimento,
tais como: Moeroes, tanques e anéis para
poço! A Prefeitura de Brusque se tornou seu principal cliente.
Até o dia em que Ivo Rodrigues viu
funcionando em uma fábrica de Jaraguá do Sul uma máquina que produzia tubos em
larga escala.
– Vou construir uma máquina como esta! –
decidiu Ivo.
Levou a ideia para seus sócios no
empreendimento. O entusiasmo dele contagiou os empreendedores, e foram
compradas peças de caminhão, engrenagens, eixo... A máquina foi colocada em
funcionamento, a empresa passou a produzir 60 tubos por dia, em diferentes
bitolas: 20, 30, 40, 50 e 60.
A produção da empresa ganhou grande impulso
em um escritório no porão da casa de tio LUIZ GONZAGA RODRIGUES, popular Duca.
O tio DUCA e o Tio OSNI PEREIRA, irmãos de
meu pai, trabalharam muitos anos na empresa como funcionários.
! A
máquina funcionou perfeitamente por muitos anos. No entanto, garantir a entrega
dos pedidos aos compradores de outras cidades era um desafio: nem a BR-101 e
nem as rodovias Antônio Heil e Ivo Silveira eram pavimentadas!
Aos 15 anos, Ademir foi contratado para
trabalhar na Casa Avenida, da família Heil, era responsável pela anotação das
entradas e saídas do caixa. Sua mesa foi instalada embaixo de uma escada, e ele
cresceu junto com a empresa, chegando ao cargo do Assessor da Diretoria.
SÓCIO
DO PAI
Em meados da década de 1970, o pai convidou
Ademir para ser sócio na fábrica de
tubos. Ademir relutou um pouco, mas aceitou se associar a um amigo, Gilson
Deichman, para adquirir as cotas que pertenciam aos outros três sócios. Algum
tempo depois Ademir comprou as cotas do seu sócio Gilson ficando cotas da
empresas para ele e seu pai E assim foi feito... até o dia em que Ademir
decidiu se desligar da Casa Avenida e assumir de uma vez por todas a
administração da empresa em 1997.
A empresa tinha um caminhão GMC 1975 e sete
empregados. A saída foi procurar clientes fora, optando pelas prefeituras de Indaial,
Timbó, Ascurra, Gaspar, Blumenau, Botuverá, Guabiruba, Nova Trento, Canelinha,
Tijucas... Foi como uma retomada – e bem sucedida!
De auxiliar de empreendedor aos 15 anos,
Ademir passou a proprietário de empresa aos 50 anos de idade. Na prática, ele
aprendeu bastante, e o que aprendeu ele procura transmitir para jovens
empreendedores de hoje:
– Para empreender hoje, tem que ter conhecimento,
procurar entender da produção do que vai empreender. A faculdade ensina, mas
não dá todo o conhecimento de que um empreender precisa. O ideal é aliar o
conhecimento à prática. E para vencer, o empreendedor tem que trabalhar, tem
que ser abnegado, ser persistente e ter foco na sua opção. Só se consegue as
coisas com trabalho!
Texto: Revista Lions Berço
da Fiação
Nenhum comentário:
Postar um comentário